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Uma frente ampla em cada município

A política é o campo adequado para que as pessoas dialoguem, debatam, critiquem, aplaudam, proponham o que deva ser proposto, como política pública ou como atuação específica do Poder Público. É o campo do argumento em busca do convencimento.

No Brasil recente tentam alterar o fluxo natural do discurso político, substituindo-o por palavras de baixo calão, por xingamentos estranhos, e atitudes ocupadas com a narrativa inspirada no chamado discurso do ódio. As dezenas de visitas feitas pelo ex-Ministro da Justiça Flavio Dino às Comissões da Câmara dos Deputados são as maiores exibições entre a inteligência e a mediocridade, quando essa ficando prisioneira dos argumentos do então Ministro, tornava-se raivosa, pois se debatiam, revoltadas contra si mesmas, porque medíocres, e ainda teimavam para que ele retornasse outra vezes, em outro colegiado de Comissão, para levarem a surra abençoada das palavras e dos argumentos. Depois, teve-se a certeza de que a força de gesticulação dos medíocres xingadores era para fazer imagem de “live” nos seus canais.

A mediocridade narra a versão escolhida dos fatos visando criar uma ou talvez mais de uma versão dos fatos, para descaracterizá-los, visando a separação que gera o ódio.

Essa é uma situação que está em cada município brasileiro, pois, está no Brasil, como Estado e como nação.


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Como a vida de cada um, pública e privada, transcorre nos municípios, como tanto lembrava André Franco Montoro, o missionário de democracia participativa. Bom lembrar desse óbvio, porque se avizinha o pleito municipal, com a eleição de Prefeitos e vereadores.

Nesse grave momento da vida nacional, quando o Governo Federal, um governo de frente ampla, se mostra capaz de conviver, paradoxalmente, até com a presença de Ministro que pede licença ocasional do seu ministério, para votar na Câmara Federal contra o governo, estampa o esforço de convivência político-partidária, em prol de algo superior, como é o caso da Democracia e do Brasil.  

Mas o que mais interessa nesse panorama de disputas reais e imaginárias e a recuperação da racionalidade da política, através de um discurso que resulte do diálogo, que pode ser vigoroso, sem ser violento, mas respeitoso, apesar de forte, de quem dispute o convencimento de um ou de muitos, sem se deslembrar do direito à discordância discordar, sempre e sempre com palavras que não destrua o diálogo respeitoso.

Evidente, pois, que precisamos de pessoas que possam evitar os extremos para uma política de razoabilidade. A racionalidade que resulte da obediência à Constituição do Brasil, pois, sua explicação de estar no entremeio das todas as conversas e de todos os discursos da campanha eleitoral. Afinal, ela representa a fonte pedagógica e didática desse momento sagrado da disputa eleitoral, que representa a escola amplificada da democracia. Tal pregação seguramente traria benefício à recomposição de tantas famílias, dentro das quais aconteceu o ingresso divisionista de pautas político-religiosas, como se Deus pudesse ser assumido como cabo eleitoral e definitivamente assumisse a defesa do ódio, sendo ele mesmo a fonte do Amor.

O dever de propagar o ensino é mais acentuado naqueles que juram cumprir e respeitar a Constituição, que são os agentes públicos, civis e militares. Tão intenso é esse dever jurado também imposto à cidadania. Essa sacralidade constitucional não admite seja ela violada, por quem abusa da aplicação de seus princípios para destruí-la, criando a justa repulsa – sem anistia, nem perdão.

Por isso, impõe-se a cada partido político e a cada membro deles assumirem a disciplina, que retire o país da terra-do-dever-molenga, para fazê-la obediente de suas regras de convivência social.

Um programa comum debatido e cristalizado sob a garantia ética dos atores constituirá a bandeira dessa luta.

Qual o nome de homem ou de mulher em nossa Ribeirão Preto, qual o nome em cada munícipio de nossa região metropolitana, com competência e habilidade capaz de representar essa ação e esse discurso de frente ampla, para congregar forças políticas, pessoas e associações? Um momento de cooperação, para que juntos recriássemos o sentido solidário de identidade nacional, já que o discurso do ódio não só destrói a relação entre as pessoas, o convívio social, mas atinge o núcleo da democracia, um único sistema que consagra os direitos fundamentais e sociais das pessoas. E vive-se, historicamente, o paradoxo desse imenso território do Brasil, crescentemente anexado por via do diálogo, o que significa sem guerras, mediante a desigualdade social que nos envergonha.

Para o início de formação dessa força, o ensinamento de Dom Helder Câmara, o arcebispo de Recife e Olinda, que a ditadura trabalhou o que pode para não o ter como Prêmio Nobel, emerge luminoso:

“Quando sonhamos sozinhos, é só um sonho, mas quando sonhamos juntos, é o começo de uma nova realidade”.

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