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Feliz Natal, Viva a Liberdade

NATAL é a festa máxima da cristandade. Ela comemora o nascimento da CRIANÇA, numa manjedoura. Era filho de Maria e José, o carpinteiro.

Esta CRIANÇA se converteu numa extravagância, no mundo antigo. E sua palavra adulta e simples inoculou na alma e na consciência do tempo romano, autocrata e violento, discriminador e desigual, a ideia explosiva da liberdade do homem, a ideia explosiva da igualdade dos homens, a ideia explosiva da fraternidade entre os homens. Cada um é a imagem e semelhança do Criador. Era a subversão da segurança nacional, romana e imperial.

No início, era a religião subversiva e perseguida. Na clandestinidade, construiu sua história, com o sangue dos mártires e no murmúrio das catacumbas. Os agentes da segurança romana e imperial, irritavam-se, já, com a altivez e resistência daqueles adoidados, que acreditavam. Cada homem era a imagem e a semelhança do Criador.

Este mesmo CRISTIANISMO da criança, nascida na manjedoura, de Maria e José, o carpinteiro, subverteu a paz romana, autocrata e militar, até Constantino, quando é elevada à condição de religião oficial. Este tempo assinala o início da estreitíssima ligação entre os homens da Igreja e o Poder Político. Por muitos séculos andaram de mãos-dadas, mantendo privilégios e injustiças. E a consciência de novo tempo conduz à reflexão do último Concílio Ecumênico a sábia autocracia, recordando-se, assim, ter a Igreja triunfante permanecido a reboque de todas as conquistas científicas e sociais dos últimos quatrocentos anos.


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Fundamentalmente, o Concílio Ecumênico estremece o prestígio de comodidade, e recoloca a cristandade no reencontro com sua origem, e, portanto, dentro dos problemas do mundo, explorado, humilhado e oprimido. E assim retoma o gosto de libertação, de batalha pela libertação. Para que o homem firme sua dignidade no trabalho, na educação, na morada, na cultura, no mundo. Neste mundo em que a divisão substancial não é ideológica, mas entre a miséria e a riqueza, entre o desenvolvido e o subdesenvolvido. É o subdesenvolvido subordinado ao desenvolvido, numa espécie disfarçada de escravatura nova.

E, modernamente, o cristianismo “teilhardiano”, partindo da ciência, orienta a grande luta pela liberdade, ensinando que a “Criação” não é um ato consumado, para significar que a construção de um mundo novo, de uma sociedade nova, homens novos e coisas novas, pressupõe luta simultânea, para que mude tudo, simultaneamente. E, ainda, nos ensina que qualquer sociedade representa um simples momento histórico para ser superado em seguida. O germe da destruição nasce com as instituições, velhas ou novas.

A lição da Criança, nascida na manjedoura de Maria e José, o carpinteiro, é esta: todos têm direito de viver sem medo, porque LIBERDADE é viver sem medo. Sem medo da miséria e da fome, sem o medo da inflação, sem o medo do desemprego, sem o medo do salário aguado, sem o medo da insegurança, sem o medo da polícia, sem o medo da fila do INSS, sem o medo do trânsito, sem o medo do hoje, sem o medo do amanhã, sem o medo do medo.

Com esta reflexão sobre o Natal não vejo muito de eficiência na conscientização sobre a situação das crianças, pois não se coloca o problema da criança no quadro do sistema econômico e no quadro do problema político. É a repetição daquela outra monumental campanha OURO PARA O BEM DO BRASIL, quando tantos ficaram sem o ouro e o bem do Brasil não apareceu, como se esperava.

É uma campanha que desperta o pieguismo, mas não serve de instrumento de conscientização sobre o sistema político e econômico, que “delineia prematuramente o futuro de exclusão das oportunidades de melhoria social e econômica. Nada leva a afirmar que tal exclusão repousa na ausência de potencialidades individuais. Ao contrário, ela tem um caráter coletivo, determinado pelas carências materiais e culturais do círculo familiar”. Se forja a deformação da piedade, esconde o senso de justiça. Ademais, o sistema que discrimina o negro, discrimina a criança, que discrimina os índios, discrimina a criança. O sistema que discrimina o povo, como senhor de seu destino, discrimina a criança.

Este é o sentimento do Natal.

Esta é a fé cultivada, em razão do nascimento da Criança, numa manjedoura. Da Criança que era filho de Maria e José, o carpinteiro. A Criança que, adulta, lançou a ideia-bomba da liberdade, que fratura a segurança nacional, romana, imperial, utilitária e militar.

É assim que consigo desejar:

Feliz Natal!

Viva a Liberdade!

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