ColunistasNotícias

O Livrão do Luizinho

Getting your Trinity Audio player ready...

Por Feres Sabino | O Sidnei Beneti, aquele decente e brilhantíssimo Ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça, membro da Academia de Letras de Ribeirão Preto, cidade onde nasceu, enviou-me pequena apresentação do pequeno livro de bolso, que o acompanhava, sob o título Escritos de uma vida- Poemas e Crônicas, dizendo nela que seu autor  Luiz Roberto de Oliveira, é  seu amigo de infância, estudou com ele no  Instituto de Educação Otoniel Mota, e que escolhera a medicina como sua carreira e sua vida profissional. Foi professor da Faculdade de Medicina da UNESP em Botucatu, onde completou seu tempo de aposentadoria. Chamavam-no Luizinho.

Esse pequeno livro, à medida que li, foi num crescendo, como se a alma e a consciência reveladas sucumbissem com o ato de escrever, para revelar toda sua grandeza humanista, que se inicia no ano de 1966, com a sensibilidade e a ternura do amor à amada, para Trinta Anos depois, reiterar em silencio o casamento de quem eram “sós” e se tornaram “nós” na unidade do amor plural.

O amor – dizem, até de quem não é poeta— nasce e repousa, enquanto vive, no coração do ser humano. Quando o amor sobe à consciência, ele tem a força expansiva que confere à pessoa a visão holística dos seres humanos e do Universo, com a relação intima entre eles com ele e nós. Assim, se situou no mundo o “Luizinho”, amigo do Sidnei, como se dissesse “estou aqui” em definitivo, para o que der e vier. 

E aí, por isso, encontrou não só a relação interpessoal, particular de poucos, como no espaço público encontrou aquele muito que se denomina coletividade, cujo olhar de simpatia fraterna a transforma numa síntese da fraternidade humana. E foi durante a ditadura militar, ele professor universitário, que teve a experiencia marcante da solidariedade, através da adesão à greve, cuja pauta era o salário do servidor. Havia a comparação com o salário dos servidores da Prodesp (empresa estadual). A diferença quase ultrajante lhe deu a compreensão do que vinha embutida nas “… políticas públicas de cunho neoliberal”. A herança maldita desse período, que não pode ser esquecido, sintetizo em 1) comprometeu as gerações futuras, como se pode provar com a mediocridade de hoje, que se apresenta como virtude nova, 2) deixou o legado de uma inflação galopante, 3) uma dívida externa giganteza. Essa síntese pode ser titulada como muito simples, já que respeita o espaço disponível. Indiscutivelmente, paira sobre esse período de vinte anos a sombra apavorante da tortura e do esquartejamento de corpos, lá no forno da Usina da morte.

CONTEÚDOS EM PRIMEIRA MÃO: Faça parte do nosso GRUPO DO WHATSAPP para receber, em primeira mão, notícias e vagas de emprego de Orlândia (SP) e região.

Entretanto, o que interessa agora é a dimensão do “Luizinho”, amigo do Beneti. Pois bem. Em 1998, na simples viagem comemorativa do final de ano, celebrou “…um despertar aos pés da Mantiqueira, no Vale do Paraíba, como se fosse despertar num paraíso do início-do-mundo no encerramento do segundo milênio d.C.”, cujo prazer e admiração se convertem na defesa de nossa relação com a natureza, até porque, como ele transcreve, em Afinidades, logo nas primeiras páginas, referindo-se a Jose Saramago: “É preciso recomeçar a viagem. Sempre”. E, ali, outra vertente do mesmo caminho se revela claramente, para o recomeço da viagem integrativa da sua vida, cujo sentimento estava impaciente para se revelar, porque igual ao “Escrever, que vazio! Não basta querer/ Tem cio/ É preciso acender/O pavio/ Pro verbo verter/ Como um rio”.

Quanto à forma do capitalismo financeiro, que era vitorioso com a globalização, até 2008, e que ele hoje se desfaz, com a agonia do escândalo da taxação mundial do imperador, que deseja recuperar o prestígio e a força aterradora de seu reino colonizador. O poeta participante das angústias e das esperanças do mundo estava atento para o anúncio do colapso, perguntando: “Onde será que estão/ Os pais da globalização/ Que aos pobres opõem barreiras/ E eles seguem metendo a mão”.  Para no final desse poema ele continuar interrogando, em 2001: “Onde será que estão/ Os que enfrentam esse vilão/ Onde Será que estão/ Os terroristas afegãos/ Nas cavernas das colinas/ Ou no antro do apagão/ Sob as vestes palestinas/ Ou nas espoletas do canhão/ Nas demandas intestinas ou na globalização”.

O livro tem muito de autobiográfico, em crônicas curtas. E poesia, poesia de encanto e atração, que não cabe em qualquer número, para se dizer quantas seriam, já que traz a suave contradição da beleza e da arte: quando poucas, a sensibilidade faz o milagre da reprodução de muitas e de tantas.


- Publicidade -


Não é um livrinho só porque é de bolso. Esse é o Livrão do Luizinho.

 

Comentários