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O Oráculo da estupidez autoritária

A invasão do prédio do Congresso dos Estados Unidos constitui a erupção das contradições do sistema eleitoral americano, que ficou sob suspeição desde a eleição do Bush filho, cuja fraude na vitória ficou blindada pela decisão da sua Suprema Corte, ou seja, sem constituir jurisprudência, e que ficou válida só para aquele caso. E com a derrota de Hillary Clinton para Trump aparece a contradição da vitória popular face à derrota no colégio eleitoral, que ela aceitou.

No entanto, na presente eleição as instâncias eleitorais e todas as Cortes estaduais dos estados em que os advogados de Trump apresentaram pedidos de recontagens ou impugnações, em todas elas o resultado foi confirmado, com o consequente despejo de Trump da Casa Branca, decretado pelas urnas. E a Suprema Corte rejeitou rapidamente conhecer dessa matéria.

O incentivo de Trump à violência, que afastou logo, logo, de sua companhia não só Israel e Arábia Saudita, mas tantos republicanos, encontrou solidariedade no governo brasileiro, que coerente com sua vassalagem fez aparecer no pensamento do atraso medieval do Ministro das Relações Exteriores, a barbárie do ato violento, justificando-a como vertente de uma verdadeira democracia, enquanto do mesmo lado o nosso Oráculo de Brasília, incansável no seu pendor único de ameaçar a democracia, não se fez de rogado, e já preveniu que, em 2022, a dose da estupidez autoritária pode repetir aqui o que aconteceu lá na sede do império, se o voto impresso não for adotado.

São sequenciais, no correr desses dois anos de governo, e numerosos no discurso presidencial nativo, as violações dos princípios democráticos que o nosso Oráculo, que não se envergonhando de colocar-se como vassalo do Trump, pronuncia inclusive ataques injuriosos ao próprio povo indignado, que o arrotou na eleição direta, dizendo que o “Pais é de Maricas”, o “País está quebrado” e que “Nada pode fazer”(mas ele não vai embora), quando, antes, durante e depois, pretendeu deslegitimar o Supremo Tribuna Federal, a imprensa e sua liberdade, a ciência pátria e suas conquistas, e tudo que confere ossatura a um Estado nacional. E cuidou de desmoralizar o exemplar sistema vacinal do país, em plena crise sanitária.


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O Oráculo de Brasília prestigia as instituições militares, não só com visitas frequentes, vantagens financeiras e armamento para cuja compra no exterior pretendeu até isentar de cobrança de imposto, com aprovação do Ministério da Defesa, interditada cautelarmente pelo Supremo Tribunal Federal, como parece incentivar o caos, que é o que verdadeiramente interessa a ele e a seu bando.

Se o caos não fosse o objetivo, a “guerra contra a Covid-19” teria tido um planejamento, uma racionalidade, inspirada no que está escrito na Constituição, para enfrentar uma realidade nacional e mundial, que o Oráculo procurou minimizar, desacreditar, como se a crise estivesse no “finzinho”, quando na realidade ela simplesmente continua mais grave. É possível governo grávido de militares não executar planejamento algum? Se a guerra fosse outra, a vergonha seria igual.

A honestidade do general Pujol já declarou que as Forças Amadas defendem o Estado com suas instituições, e não o governo, e que elas ficam distantes da política. No entanto, é aterradora a flagrante contradição, já que o governo tem mais de oito mil militares, inclusive da ativa, exercendo cargos administrativos, e que certamente dia a dia gostam mais de ficar onde estão com seus acúmulos remuneratórios, ou opções mais vantajosas.

O nº 3 do Oráculo presidencial esteve na Casa Branca, na antevéspera da invasão, a convite da filha do presidente despejado, bebericando saberes, sendo que há pouco mais de três meses ele declarou, na televisão, que o fascismo não acontece do dia para a noite, ele vai se construindo, e citou seu exemplo, a Venezuela e seus militares. Será o filho explicando o interesse da família?

Nota: Em artigo recente houve referência a uma epígrafe: “Na Amazônia tem mais petróleo do que água”, como impressa em capítulo do livro “O General Góes depõe”. Agora, recebi da Estante Virtual, um volume de 1956. E nele ela não se encontra. O tempo decorrido, após a forte impressão causada, desculpa esse equívoco.

Texto publicado na Tribuna de Ribeirão preto em 12 de janeiro de 2021.

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