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Elevados e minhocões

O jornalista e historiador Élio Gaspari, no jornal Folha de S. Paulo de 3.7.11, registrou que no Brasil ainda se propõe a constru­ção de elevados e minhocões numa época em que não somente são condenados nos países desenvolvidos, como até mesmo são demolidos como em Nova York e em Boston. Os melhores urbanis­tas do passado e do presente lançaram graves condenações contra as construções de elevados e minhocões, responsáveis pela implanta­ção de mais problemas do que por inaugurar boas soluções. Há dois exemplos esclarecedores.

O minhocão da cidade de São Paulo, fazendo reverência à civili­zação do automóvel, matou uma das mais belas áreas urbanas, o en­torno da Avenida São João. Na época de sua construção, o secretário de defesa norte-americano Robert McNamara condenou o projeto, recomendando ao Prefeito Paulo Maluf a aplicação da monumental verba na implantação de transportes coletivos, como no metrô. Es­tava certo, mas não foi ouvido. Gastaram-se trinta e sete bilhões de cruzeiros. A batalha disputada entre o metrô e o automóvel venceu o automóvel. O privado derrotou o público!

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O minhocão de Santiago do Chile, muito melhor, é subterrâneo, daí resultando a desnecessidade de desapropriações, tendo o mérito de não contribuir para a favelização da zona urbana.

O exemplo rural é o da Ferrovia do Aço construída para ligar Belo Horizonte-Rio-São Paulo com o quadrilátero do ferro de Minas Gerais. O primeiro contrato, celebrado durante o regime militar, portanto em 1976, consumiu 262 milhões de dólares. Seu traçado veio cortando as montanhas mineiras, em linha reta, sobre elevados e túneis. Um desses túneis é o mais extenso de nossas ferrovias, com quase nove quilômetros. A obra está inacabada. Provavelmente nunca será terminada. Nenhum trem até hoje cortou a agônica ferrovia. Trata-se do mais silencioso escândalo da República.


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Há autores que se julgam levados a examinar nossos elevados com obras semelhantes edificadas no passado remoto, em contraste com as obras edificadas pelos romanos na época em que estes últi­mos dominavam a Península Ibérica com os elevados que recente­mente desabaram em São Paulo.

Vários elevados foram construídos pelos romanos. Um dos mais famosos é o Aqueduto de Segóvia que foi construído nos primeiros anos da Era Cristã. O edifício alcança a altura de um prédio de cin­co andares dos nossos tempos. Trata-se de uma obra majestosa que nasceu há dois mil anos.

Mas, no Brasil não temos obras semelhantes? Com certeza que sim, como, por exemplo, o enorme viaduto que liga o centro da cidade do Rio de Janeiro com o Morro de Santa Teresa.


Há enormes diferenças entre uma obra e outra: a técnica ope­rada. De qualquer maneira, as duas não desabaram. Uma usando metais para sua segurança e a outra, não.

Daí se aproxima de uma pergunta até hoje sem resposta. Se o Aqueduto de Segóvia suportou chuvas e trovoadas durante 2.000 anos, qual seria o fator que tem atuado para a destruição dos viadu­tos paulistanos construídos há menos de 100 anos?

Percebe-se que as novas edificações de obras semelhantes (com exceção a de Santiago do Chile) tendem a ser vitimadas por uma doença precoce transmitindo a sua população um grande descon­forto e uma enorme perda de recurso.

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