Mimesis ou imitatio
Sérgio Roxo da Fonseca *
roxodafonseca@gmail.com
Taís Costa Roxo da Fonseca **
taisroxofonseca@gmail.com
O livro denominado MIMESIS escrito pelo judeu alemão Erich Auerbach, publicado pela Editora Perspectiva, converteu-se no exame de toda ou de quase toda literatura clássica, convertendo-se na estampa de todo o conhecimento histórico e literário posto ao nosso exame.
O autor, conforme assinalado, era alemão e judeu, tendo se exilado em Istambul para livrar-se da perseguição instalada na Alemanha na metade do século XX pelos nazistas.
Para publicar um trabalho extraordinário, residindo em Istambul, Auerbach contou com a oportunidade de investigar as obras constantes da biblioteca do mosteiro dominicano de São Pedro-São Paulo, cujas portas foram abertas pelo Monsenhor Ângelo Roncalli, que, mais tarde, isto é em 1958, foi eleito o Papa João XXIII.
O extraordinário autor encontra meios e palavras para compreender o Antigo Testamento bíblico nas palavras expostas pela arte cênica e teatral dos séculos vindouros: ‘Vários pensamentos ligados entre si de forma complexa são expressos nessas passagens das Sagradas Escrituras vão ao encontro daqueles que têm o coração simples e crente; que este último é necessário para delas participar pois é a participação e não uma compreensão racional que elas querem dar”, segundo os passos dados pela leitura da Paixão de Cristo”.
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A reflexão traz as palavras trocadas por Poncio Pilatos com Cristo quando indaga ao seu prisioneiro “se é verdade que ele é o rei dos judeus”, recebendo como resposta as palavras da autoridade investigada e ré: “Você é quem diz pois vim aqui para dizer o que é a verdade”. Imediatamente Pôncio Pilatos indaga, ´o que é a verdade´, encerrando instrução do processo, condenando o seu réu à morte na cruz. (João, 18-33).
A genial leitura realizada, tendo como objeto os livros antigos, leva o estudioso a concluir que todas as obras do passado têm como objeto as classes superiores. Menos uma: o Evangelho de Cristo que documenta a vida de carpinteiros e pescadores que rodeiam os passos de Jesus Cristo. O Sermão da Montanha fixa essa visão.(Mateus, 4-5)
Anota-se que Hans Kelsen, inicia sua obra “Oque é a Justiça” (Martins Fontes, pg. 1) transcrevendo todas as palavras do Evangelho de João. “o que é a verdade, expressão usada por Cristo como objeto do seu ensinamento. Mas o que é ”verdade”?
Erich Auerbach, lendo livros sobre livros, investigando a imensidão da literatura, encontra um caminho para instalar outra questão que mimeticamente busca uma verdade histórica: todos os livros da antiguidade narram sempre a história das classes dominantes de sua época.
Há uma e única obra que tem como curso a narrativa que documenta a vida e a obra da classe mais pobre de um determinado povo: ’o Evangelho de Jesus Cristo”. Ele é filho de um carpinteiro e tem como mais notável discípulo Pedro, um pobre pescador. Assim é que é executado tendo a sua cruz fincada entre outras duas ocupadas por dois ladrões.
É o pobre Jesus Cristo, com seus discípulos, o responsável por revelar o que é a verdade que inspirou todas as gerações que historicamente o sucederam? O extraordinário Sermão da Montanha claramente tem como razão narrar e prever esse futuro!
A leitura realizada por Erich Auerbach revela o que não está oculto, mas que, passados os anos, permaneceu sob a sombra do desconhecimento.
Erich Auerbah nasceu em Berlim em 1892 e faleceu nos Estados Unidos em 1957. Hans Kelsen nasceu em Praga em 1881, lecionou em Viena e faleceu nos Estados Unidos em 1973.suas obras são extraordinárias.
* Advogado, professor livre docente aposentado da Unesp, doutor, procurador de Justiça aposentado, e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras