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Paulo Freire e Fernão Dias

A imprensa nacional assustou seus leitores ao tomar conhecimento da decisão da Companhia do Metrô de São Paulo, refletindo orientação de seu governo, pela qual foi substituído o nome de uma estação da estação conhecida como professor Paulo Freire pelo do bandeirante Fernão Dias. É escusado dizer que Paulo Freire foi um extraordinário mestre brasileiro, reconhecido tanto pela crítica nacional como pela estrangeira.  

A orientação mais aplaudida do planejamento urbano condena este comportamento sejam lá quais forem ou não forem os méritos ou os deméritos dos homenageados. Mas infelizmente a conduta é frequente entre nós. 

Na metade do século XX, em Ribeirão Preto, onde hoje estão instaladas as respeitadíssimas faculdades da Universidade de São Paulo, ali funcionava uma escola agrícola. A rua que ligava a cidade com o centro educacional chamava-se “Corredor dos Calabreses”, onde eram construídas modestas casas dos imigrantes italianas. O “Corredor dos Calabreses” desapareceu como também desapareceu aquele registro histórico da contribuição da Itália para com a nossa história. 

Afirma-se que o nome do “Corredor dos Calabreses” foi substituído pelo da Rua Paranapanema, que, muito embora, pelo nome, registra um grande salto paulista, instalado no sul do Estado, com segurança é possível afirmar que os calabrases deixaram uma marca civilizatória muito mais relevante do que a escravidão instalada às margens daquele rio. 


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A imprensa local tem informado que a nossa Prefeitura caminha por substituir o nome de um grande médico, dado à confluência da Rua Fiuza com a Avenida Independência, pelo nome de um respeitável empresário. Suponho que nenhum dos dois aprovaria a decisão. 

A substituição de nomes de ruas e praças configura desrespeito ao seu passado histórico. Basta ver a famosa Paris, sede do histórico Museu do Louvre, o mais visitado do mundo. Para os mestres franceses, o seu nome deriva do latim “lúpus” que significa “lobo”. O museu foi inaugurado em 1793. Até hoje ninguém se atreveu a propor a substituição do seu nome. 

Ao lado do Louvre há um bairro denominado “marais”, que se traduz como “brejo”. Fica na margem do Rio Sena. Nenhum nobre francês propôs a substituição do nome daquele famoso centro comercial. 

Na França, durante a revolução industrial, no século XIX, os operários usavam tamanco para trabalhar. Para os franceses, “tamanco” é “sabot”.  Quando os operários não eram atendidos pelos seus empregadores jogavam seus tamancos nas máquinas, quebrando-as. A conduta passou a ser conhecida como “sabotagem”. Até mesmo no Brasil. Em Paris há uma rua que se chama Rua do Sabot. Do tamanco? Sim.  Rua que marca uma passagem histórica da França. Fica nas proximidades da Igreja de Sant Germain de Près. Ninguém alterou seu nome e o significado dele nem na França e nem no Brasil. 

Por que em Ribeirão Preto substituíram o nome da Rua dos Calabreses por Paranapanema, ou por qualquer outro? Os calabrases foram menos importantes do que a trágica história instalada às margens daquele rio?  

E agora, o governo de São Paulo impõe a substituição do nome da estação do metrô que leva o nome de Paulo Freire, professor que teve o seu trabalho reconhecido no Brasil e no exterior, pelo do bandeirante Fernão Dias que, segundo afirma-se, confundia turmalina com brilhante. A tristeza que mancha o ato do atual governo sacode a alma de todos brasileiros tanto pela sua absurdidade como também pelo seu desrespeito pela nossa história. 

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