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Otoniel Mota ou Estadão

Para demonstrar a importância da escola pública, registro a experiência que tive como aluno do antigo Ginásio do Estado de Ribeirão Preto, o hoje Instituto de Educação Otoniel Mota.

No ano de 1949 ingressei no Seminário Maria Imaculada, então instalado defronte do Hospital São Francisco, em Ribeirão Preto. Pretendia abraçar a carreira sacerdotal. Três anos após, afastei-me do seminário.

Até então, ou seja, em 1953, o ensino religioso não tinha valor jurídico no Brasil. Participei do vestibular do Ginásio do Estado. Fui aprovado. Naquela época meus pais foram homena­geados como titulares da família com maior número de filhos matriculados no Estadão. Quatro filhos, quatro alunos.

No terceiro ano conheci a colega Anna Maria dos Santos Costa, uma das primeiras alunas da classe feminina. Apre­sentava-se como uma das mais promissoras alunas de piano do Conservatório Musical. Tornou-se professora de piano e lecionou nas escolas do SESI. Nós nos casamos. Somos pais de três filhos e avós de sete netos.


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No final de 1957 fui eleito presidente da entidade representativa dos alunos do Ginásio, tendo como vice-presidente o Feres Sabino. Vencemos nas urnas nosso grande amigo João Orlando Duarte da Cunha que se converteu num dos mais destacados políticos na defesa da democracia, após a instalação da ditadura em 1964.

Não exerci o mandado do CNOB, Centro Nacionalista Olavo Bilac, porque a minha família foi transferida para o Rio de Janeiro. Na presidência fui substituído pelo amigo e colega Feres Sabino, até então acompanhado pelo Rubens Ely de Oliveira e pelo Rui Flávio Guião. O Rubinho destacava-se como o mais notável orador do Estadão, de toda a geração. Foi o único aluno expulso do Estadão.

O Feres, o Rubinho e o Rui Flávio completaram seus estudos em São Paulo. O Feres exerceu o notável cargo de Procurador Geral do Estado de São Paulo durante o governo de Franco Montoro. O Rubinho tornou-se desembargador, tendo falecido em São Roque há dez anos. O Rui Flávio tornou-se um dos mais destacados historiadores de Ribeirão Preto ao lado do também ex-aluno Otávio Verri.

O Sérgio Arouca, após terminar seu curso tornou-se a mais significativa autoridade da FIOCRUZ, convertendo-se numa das principais vozes para a criação do SUS, o mais amplo sistema de atendimento médico da terra, sob o seguinte lema: “onde houver dinheiro público, o atendimento tem que ser universal”.

O Laudo Costa converteu-se em professor da Faculdade de Medicina da USP. Destacou-se na área do câncer oftalmológico diagnosticado quando os olhos de uma criança brilhavam de encontro com as luzes elétricas.

A primeira aluna da classe feminina era a Walderez de Matias Martins que se tornou teatróloga premiada sob o nome de Walderez de Barros. Casou-se com o extraordinário escritor Plínio Marcos.

Encerro a memória daquela época, registrando a cerimônia convocada pela Câmara Municipal para homenagear o ribei­rãopretano Sidnei Beneti. No seu discurso o homenageado proferiu uma frase que ficou na nossa memória. Havia convivido com fatos que lhe causaram muita emoção, como, quando foi aprovado para a Faculdade de Direito da USP; depois quando in­gressou na carreira de Juiz de Direito, que antecedeu seu ingres­so no grupo de desembargadores. Dali foi eleito presidente da Associação Internacional da Magistratura. Tornou-se membro titular do Superior Tribunal de Justiça.

O Sidnei completou, afirmando que a sua mais intensa emo­ção se deu quando recebeu a notícia de que havia sido aprovado no vestibular do então Ginásio do Estado de Ribeirão Preto, hoje rebatizado como Instituto de Educação Otoniel Mota.

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