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Invasão Arábica na Espanha

Sérgio Roxo da Fonseca 
Procurador de Justiça e professor universitário (aposentado)                                            

Tais Costa Roxo da Fonseca 
Advogada 

A invasão dos árabes na Espanha ocorreu em 711. Os muçulmanos, comandados por Tárique, atravessaram o estreito que afasta a África da Europa, chamado “jabal AL Tárique”, hoje conhecido como “Gibraltar”, para invadir a península ibérica, antes do surgimento da Espanha e de Portugal. Não haviam sido definidos os estados espanhóis e portugueses. Os seus territórios eram administrados pelos reis católicos.  

Os árabes acabaram sendo derrotados pelos reis cristãos em 1492, Até então os muçulmanos conviviam muito bem com os judeus, mas não tão bem com os cristãos. No entanto, após sua derrota, cristãos, árabes e judeus unidos construíram a Espanha e Portugal. Os árabes deixaram várias palavras do seu idioma no português: como aquelas iniciadas por “al”: como “alpendre”, “alface”, “alcaide”. A cultura arábica proibia a edificação de estátuas e a elaboração de desenhos. Os seus enfeites ingressaram em nossos idiomas pelo vocábulo “arabesco”. 


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Durante a dominação árabe, a cidade de Córdoba converteu-se num polo de grandes de extensos estudos, tornando-se uma das maiores cidades da Europa. 

Naquela época, os cristãos estavam proibidos de estudar os filósofos gregos, tanto que, quando dominaram Constantinopla, ordenaram o fechamento das escolas filosóficas deixadas por eles na Grécia. 

Em Córdoba, sob o domínio dos árabes, nasceu o mais importante intérprete de Aristóteles conhecido: Averrois (1126/1198). Era filho de uma família de juristas e de médicos. Chamava-se Abu Al-Walid Muhammad  Ibn Ahmad Ibn Muhamad Ibn Ruxid. Os estudiosos afirmam que Averrois se converteu no mais profundo intérprete de Aristóteles. Dele surgiu uma escola, o “averroismo”, fonte de vários choques com a Escola de Paris e especialmente com os trabalhos de São Tomás de Aquino. Era ele médico e filósofo. 

Ainda em Córdoba, na mesma época de Averrois, ainda sob a dominação muçulmana, nasceu o judeu Maimônides, também conhecido como Rambam (1138-1204). Escreveu extraordinárias obras sobre medicina e religião, espelhando os textos bíblicos que documentam a convivência de Deus com o profeta Moisés. Trabalhou no Egito, onde se tornou o médico do imperador. Após a sua morte, o seu corpo foi trasladado para Tiberíades, onde foi sepultado. Rambam, até hoje, deixou uma notável influência sobre o povo e a religião judaica. 

Para ficar demonstrada a importância que os muçulmanos davam à filosofia grega e à medicina, bem longe da Espanha, outro grande mestre da filosofia e da medicina muito contribuiu para o desenvolvimento da ciência. Trata-se de Abu Ali Al-Hussayn iba Aliah ibn Sina, que nas línguas latinas é conhecido como Avicena (Irã-Uzbequistão – 980-1037). Deixou inúmeros trabalhos sobre a filosofia aristotélica, atribuindo-se a ele ter batizado uma doença dos olhos com o nome de “catarata”. 

Os árabes introduziram na Europa, pelos caminhos da Península Ibérica, o “sistema decimal” que haviam conhecido quando visitavam a Índia. Os europeus não suportavam o zero. Os árabes informavam que do zero a nove estavam todos os números do universo. Acrescentavam que a palavra “zero” havia nascido de “zéfiro” que na Índia significava “vento fraco”. 

Deitar os nossos olhos sobre décadas pouco conhecidas da história, enseja a oportunidade de compreender melhor a visão do argentino Jorge Luís Borges, para quem “o tempo não existe tanto que só se perde aquilo que nunca se teve”.  

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