Da morte
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A morte é o anverso da vida. A promessa da vida já nasce cm a promessa da morte. A promessa da morte às vezes se faz imperadora e domina a vida, aí ela dura minutos, às vezes horas, às vezes meses. A vida também pode levar tempo, muito tempo. Mas a morte nunca deixa de ser o tsunami. que esvazia definitivamente um espaço ocupado no coração de tantos e no espaço geográfico de muitos. A morte é o decreto definitivo de que a presença física jamais será desfrutada.
A morte é o silencio que murmura lembranças e saudade. É o tempo invisível no qual as imagens irrompem, de repente, avisando que se tornaram uma lágrima.
A lagrima aí é a prova da frustração das mãos dadas, do abraço impossível, do beijo congelado na boca solitária, da ânsia do rosto contraído de emoção. Essa mesma lágrima que dos olhos despenca, quando comovidos de alegria.
O ser humano é sempre multiplicado, entre o ser e o não ser, ente o corpo e o espírito, entre o pecado e a virtude, entre o mal e o bem. Ele mesmo é um plural que se faz uno no corpo que desaparece com a morte.
A morte que para muitos é um final em si mesmo, para outros se torna a travessia para o infinito. Nele se acredita que a energia do espírito está entregue à sua purificação. Para outros a alma retorna em outro corpo, quer subir na escada da quase perfeição; ela se faz espelho de quem a criou. A morte é a maior provocação do destino, pois, seu depois não dá certeza de nada, só esperanças.
A morte e a vida, assim coladas uma na outra, no eterno verso e reverso, oculta a metragem finita do tempo que lhe cabe. A morte é a amiga ou a inimiga de qualquer hora, de qualquer minuto, de qualquer instante. Ela diz “cheguei” e nenhuma palavra pode retê-la, quando desaba para valer sobre o ser humano.
A riqueza facilita ou pode comprar muito ou tudo, mas não consegue comprar o singelo enigma da vida, nem singelo enigma da morte. A riqueza pode empanturrar o corpo humano de excessos e com ela abastece o espírito de mais soberba e mais indiferença.
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Muitos sem explicar aceitam a morte, sem sofrer com esse tipo de ignorância, individualmente. Mas, a morte coletiva chamado genocídio não permite outro sentimento, só indignação. São lágrimas coletivas, de tantos corpos, tantos, todos semelhantes aos nossos, assim da criança, assim da mulher, assim do homem. A morte coletiva causa revolta pela cegueira do silencio covarde diante do ataque covarde.
A morte mata os covardes, como mata os heróis, como os santos, como o comum dos seres humanos, ela mata e leva todos. É o fim do sem-fim a morte.