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O apelido comunista como elogio

O Brasil contaminou-se historicamente com a luta imaginária do anticomunismo. Diz-se imaginária porque o comunismo, que se confundiu com o socialismo real, ficou esvaziado com a queda do muro de Berlim.

E a estreiteza mental de elites civis e militares, ora por interesse em defesa de posições sociopolíticas, ora por repetição cansativa no estamento militar de velharia teórica, fazem o Brasil girar nesse pequeno espaço no qual não se suporta reforma social alguma. E o país fica sem identidade e sem rumo.

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Aliás, toda reforma que tenha um caráter de solidariedade social, como são as reformas que democratizam benefícios, em favor da maioria da população, logo a mentalidade estreita ataca seus defensores com o apelido tenebroso de comunista, que nesse quatriênio último, a má-fé misturou o significado de um com o outro, comunista-petista.

Assim, o comunismo primitivo que era sugerido como comedor de criança e destruidor do lar e da propriedade, na realidade brasileira atual ganhou o nome de petista. Tal a lonjura histórica, entre um fato e outro, que sua velhice doente e cancerosa é revelada.


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A estreiteza mental é tão grande nessa prática política de etiquetar o outro de modo a marcá-lo de infâmia, que ela não percebe que tudo que a dimensão da justiça sugere, como solidariedade ao outro, a burrice coloca no campo chamado de comunista ou petista. Com isso atribui-se a eles a simpatia atraente de que é com eles e só com eles que acontecerá o desenvolvimento social e a redenção do país, quando além deles há tantos e tantos sonhadores. A consequência brutal dessa estreiteza surge com o nome do educador Paulo Freire, perseguido pelo Golpe de Estado de 1964, e cujo método reconhecido internacionalmente o levou a trabalhar em tantos países. Com ele a educação acontecia, no entanto, preferem ficar gritando, repetidamente, que o problema do Brasil é a educação. E objetivamente fica no grito.

Um exemplo, esse mais próximo, do absurdo está nessa separação propalada e agravada pelo governo que está indo para casa, com relutância e promessa de vingança. Tanto pregou a separação, o descrédito de pessoas e instituições e Poderes, e tanto procurou desmoralizar a estrutura democrática incipiente em que vivemos e construímos dia a dia, que, em nome do neoliberalismo autoritário, ele deixa as finanças do país esvaziadas, assim como a estrutura do Estado Democrático com a alma cansada, mas de pé, na resistência para espantar os fantasmas saídos do bueiro da nação.

A tarefa que se nos coloca é enorme, pois, misturadas com nossos preconceitos atávicos, que compõem nosso passivo social, como história de sequestro de terras e de exploração humana e da natureza, temos as ideias fixas, mais atuais, inoculadas na nossa cabeça, por falsas notícias, disseminadas aos milhares e milhares, criando blindagem mental ao que pode gerar o espírito crítico e a visão da realidade. O símbolo delas foi o símbolo da campanha anterior, a espingarda, e a propagação da facilidade das armas contra a violência, que não sabem combater nas suas raízes sociais.

A mentalidade vigorante e ignorante é demonstrada em uma única frase semelhante a essa – só as forças armadas podem enfrentar o socialismo. Primeiro, faz tempo que não há guerra externa. Segundo, como não há guerra externa, não se deve fazer a interna, considerando opositores como inimigos. A palavra que ameniza o comunismo é socialismo, quando tanto um como o outro pouco contribuem à redenção da diversidade de nosso país. O território brasileiro foi consolidado, na sua extensão, pelo trabalho diplomático, pelo diálogo, e será pelo trabalho da inteligência e da criação de um projeto nacional que se fará nossa redenção, aproveitando a experiência de tantas instituições e de milhares de associações e pessoas. Formar-se-á assim a estrutura do Estado soberano e livre, onde as forças armadas, como instituição permanente, deverá guardar seu papel importante de cuidar de nossas fronteiras pelas quais transitam clandestinamente armas e drogas, defendê-las de exércitos ou milícias externos. Não poderão elas pretenderem interpretar a Constituição, substituindo o Poder Judiciário, nem pretender ser Poder moderador, que não são. E quem só fala delas pretende, na verdade, que sejam sua parede de proteção. Uma confissão descarada de um aprendiz de ditador.

Mas, primeiro, precisamos sentir vergonha do país rico que temos, que alimenta ou pode alimentar o mundo, mas não alimenta seu povo.

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