O uso e o abuso da palavra
No antigo Ginásio do Estado de Ribeirão Preto, depois Instituto de Educação Otoniel Mota, a palavra era ciosamente estudada, com três aulas, a de leitura, a de interpretação, a de sinônimos; depois veio o Parlamento Estudantil onde cultivamos a retorica, o debate. Naquele tempo a política oficial apresentava discursos de oradores, que constituíam verdadeira aula de retorica, independentemente da faixa ideológica que vestisse. Falar e escrever bem, no fundo era o culto à língua, maneira única de preparar a maneira de penetrar o conhecimento e a compreensão do país, suas diferenças regionais, que o pátio da escola pública fazia todos iguais inclusive jogando o “futipedra”, especialidade entre os meninos, porque as meninas infelizmente ficavam, em outro pátio. Era o aprendizado do querer falar bem, oferecido pela excelência da escola pública.
A primeira fase de nossa formação ginasiana inconscientemente tinha o eco longínquo da antiguidade romana, cujos comentários do povo depois do discurso de Cícero refletiam admiração (Marco Antônio Cicero (106 a.C, assassinado em 7\12\43 a.C): “Como ele fala bem”. Era o falar bem o nosso propósito.
O tempo, no entanto, que favorece a maior compreensão das coisas, dos homens, das mulheres e do mundo foi demonstrando como a linguagem sustenta sempre, ou não, os fios invisíveis que ligam ou desligam corações e consciências. No campo político, se antes respeitavam-se limites, o uso delas chegam ao paroxismo da pregação, excedendo-a em nome da liberdade da expressão, que se transforma na liberdade odienta do ódio, da ruptura, da fragmentação, da própria perversão da linguagem, tal como trabalha a extrema direita, afeita à falsidade ou a torção e distorção do que é real. Aliás sem originalidade, já que o nazismo, que combatemos, nem reivindica paternidade, pois os filhotes atuais se sentem batizados pelo simples fato de serem estúpidos.
Essa trajetória da linguagem e das palavraras, na história dos povos e das pessoas, tem fases marcantes.
Só que atualmente os discursos de nosso Congresso Nacional não revelam nenhuma inspiração, para que se tome como exemplo. Há um retrocesso espantoso, que aumentam a soberba, com as artimanhas das famigeradas e milionárias emendas parlamentares, fonte de crimes que a Polícia Federal já desventrou. A soberba da representação popular criminosamente inflada, faz com que a mudança da Constituição é a saída fácil para proteção da bandidagem e planejam alterá-la, como se fosse um jornaleco do dia. Eles roubam dinheiro público e não querem ser investigados. E para essa ética nenhuma existe a sua projeção na tribuna. O exemplo recente é dado pelo filho do inelegível, deputado federal, investigador federal concursado, que da Tribuna xingou com vários palavrões, repetidas vezes, um delegado federal que cumpre sua obrigação de investigar, honestamente. Depois, publicamente no Aeroporto do Galeão recebeu uma notificação, quando estava pronto e ansioso para ir assistir pela televisão a posse de Trump, repetiu a cachoeira de baixo calão que falara da Tribuna, dizendo sobre o delegado inclusive essa da “putinha do Moraes”, que não foi rigorosamente a única expressão da ofensa. Mais grave ainda. Ele viaja para os Estados Unidos, frequentemente, para articular qualquer medida contra as Instituições Brasileiras. Até a ridícula ação judicial de uma empresa trumpista contra Alexandre de Morais, para receberem a resposta oficial de que não via razão para qualquer medida, porque o Ministro brasileiro obviamente decidira para que as leis brasileiras fossem cumpridas, evidentemente, no Brasil. Portanto, é absolutamente natural considerá-lo um “lesa-pátria”, que deve ter seu passaporte retido. E se gasta dinheiro público para financiar suas viagens, deve ser obrigado a devolvê-lo.
Por Feres Sabino