O significado do Nobel da Paz de 2025
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Por Maurilio Biagi Filho, empresário
A escolha de Maria Corina Machado como vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025 é um daqueles raros momentos em que o mundo parece encontrar um consenso moral, ainda que muitos tentem desfigurá-lo com discursos ideológicos. A líder venezuelana, de 58 anos, reconhecida por sua luta pacífica pela democracia e pelos direitos humanos em um país sufocado pela tirania, representa não apenas a resistência política, mas o espírito humano que se recusa a se curvar diante da injustiça.
Maria Corina tem pago um preço alto por essa coerência: foi impedida de disputar as eleições, chegou a ser presa por um período e atualmente vive escondida em seu próprio país, desde que contestou amplamente o resultado das eleições presidenciais ocorridas em julho de 2024, marcadas pela falta de transparência e que deram, sem provas, a reeleição ao presidente Nicolás Maduro. O resultado não é reconhecido internacionalmente. Portanto, sua arma é a palavra, sua força é a convicção e seu objetivo, a liberdade. Esses valores, de tão simples, tornam-se subversivos em regimes autoritários, mas são essenciais para promoverem a paz.
Porém, o que mais chama atenção neste prêmio é a reação que ele provocou. Tanto setores da esquerda quanto da direita apressaram-se em tachar a decisão do Comitê Norueguês do Nobel de “política”. E talvez aí resida justamente a prova de que não foi. Será que quando extremos opostos concordam em criticar uma escolha, não seria um sinal de que ela atingiu um ponto de equilíbrio ético, acima das disputas partidárias e das narrativas ideológicas?
Eu acredito que sim. A crítica simultânea dos dois polos, que raramente se encontram em qualquer coisa, mostra que o Nobel de 2025 não premiou uma ideologia, mas um princípio: o direito inegociável de um povo de viver em liberdade e sob o império da lei.
Vivemos tempos em que a coragem cívica é confundida com radicalismo, e a defesa da democracia é tratada como provocação. María Corina Machado resgata a ideia de que a paz verdadeira não é o silêncio imposto pela força, mas a convivência construída em cima do respeito às diferenças.
Ao laureá-la, o Comitê Norueguês do Nobel não tomou partido de um grupo político, mas de um valor universal. Premiar quem luta, de forma pacífica, contra a opressão é reafirmar que a dignidade humana não tem cor, fronteira ou ideologia.
Como li em um comentário que me marcou sobre esta escolha: “Quando a coragem incomoda igualmente a todos os lados, é porque ela é autêntica.” Esse talvez seja o maior significado do Nobel da Paz de 2025. E talvez também um recado para nós, brasileiros.
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Quando o debate público se torna refém de paixões cegas e de narrativas que transformam adversários em inimigos, a democracia começa a adoecer. A história mostra que os radicalismos, de qualquer natureza, não constroem, apenas dividem. O exemplo venezuelano é um alerta claro do que pode acontecer quando o diálogo cede lugar à intolerância e a política deixa de ser um espaço de encontro para se tornar um campo de guerra, mesmo que seja só de narrativas. Ainda há tempo de escolhermos outro caminho.

