ENXERGAR SEM VER
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Autor: JOSÉ COSTA
Viajando pelos espaços e pelos livros andei pela existência, várias vezes, refazendo meus conceitos ou redescobrindo caminhos ocultos e perdidos no tempo.
Encontrando-me no templo de Constantinopla, hoje Istambul, percebi que atravessando um pequeno jardim ali se encontrava um antigo museu. Ingressei pelos seus corredores.
Perguntei a um senhor se ali havia sinais do deus Hermes, que então era objeto das minhas investigações.
Levou-me para um espaço onde estavam as estátuas deixadas pela história dos homens.
Indicou-me uma estatua de pedra de um homem que mantinha erguida sua saia, exibindo seus órgãos íntimos. Tudo em pedra.
O que pode esta estátua revelar algo ligado ao deus Hermes? O senhor respondeu-me que aquela obra documentava o amor mantido entre o deus Hermes com a Afrodite, portanto ali estava a estátua do filho deles conhecido como Hermafrodita.
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Fiquei muito surpreso porque lembrei-imediatamente que na cidade em que vivi a minha juventude, o homossexual era conhecido como “Hermafrodita”. O então adjetivo havia viajado pelo mundo para qualificar a conduta de pessoas brasileiras em homenagem ao amor de deus Hermes com a Afrodite? A indagação serviu-me de resposta.
Acrescentou que toda noite o deus Hermes visita a sua residência.
– Ele fecha as nossas portas com perfeição que concluímos que são elas “hermeticamente” trancadas.
E nós não temos interesse na história dos deuses? Claro que sim, foi a resposta encontrada.
Acrescentou: durante a perseguição dos nazistas um professor judeu afastou-se da Alemanha passando a residir em Istambul. Notabilizou-se pelo estudo de livros antigos. Era e é conhecido como Erich Auerbach. Escreveu um famoso livro denominado “Mimesis”.
Revelou para a história da humanidade que os livros antigos somente falam de pessoas poderosas. Encontrou apenas uma obra que tinha como referência pessoas desprovidas de riqueza: o Evangelho de Jesus Cristo. O livro de Cristo até hoje é examinado por toda parte do mundo, diferente dos demais que são manuseados por pouquíssimas pessoas. Quando são!
Erich Auerbach teve como fonte de consulta a biblioteca da Igreja de São Pedro e São Paulo, localizada nas imediações da torre de Gálata, cujas portas lhe foram abertas pelo monsenhor Ângelo Roncalli que em 1958, um ano após a morte de Auerbach, tornou-se o Papa João XXIII.
Encerrei minha caminhada pela audição de uma inesquecível crônica de um desconhecido administrador de museu!

