O palanque da humilhação nacional
O Brasil era um exemplo na cobertura vacinal de sua população. A poliomielite, o sarampo, que estavam praticamente banidos, estão retornando juntamente com outros vírus, como se todos e muitos precisassem conviver com aquele da mesma natureza virulenta, que circula, arrogante e impune, pela política brasileira.
Não é difícil associar, pois, a situação da saúde do brasileiro, com a saúde da democracia brasileira.
Haja vista a inacreditável reunião convocada pelo Presidente da República com dezenas de embaixadores estrangeiros, que arrastou o Brasil à humilhação e à vergonha, como se ele representasse uma republiqueta de um povo disperso, faminto e alienado, sem dignidade e sem respeito.
A magistratura política do Brasil deve fazer o que naturalmente se espera de quem representa o Estado e um povo, enaltecendo, ao menos, o esforço histórico de sua redenção. Mas não. A desfaçatez doentia arrastou, mentirosamente, pela passarela nacional e internacional o que nada se provou contra as urnas eletrônicas, em trinta anos de uso e prática democrática, que elegeu até quem sempre falou contra ela, no seu cântico guerreiro de morte e tortura, sem que as instituições agissem, a tempo e a hora, com a punição necessária e autodefensiva.
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Notada a ausência dos comandantes das Forças Armadas, convidados, que devem ser respeitadas, como instituições permanentes da República e que demonstram com o silêncio eloquente de sua distância discordância com o discurso fascista da destruição dos Poderes do Estado, especialmente do Supremo Tribunal Federal que, como Corte suprema do sistema judiciário, tem a competência de impor limites à atuação desvairada do presidente. Esse é o problema dele com o STF.
A emergência do protesto foi geral. Até a Associação Nacional dos Peritos Criminais da Polícia Federal declarou não existir prova de fraude com as urnas eletrônicas, como o desvairado declarou perante os representantes estrangeiros.
O silêncio mortal foi do Presidente da Câmara dos Deputados, cujo vínculo com o Presidente é de superioridade político-institucional, porque se estivesse sentado sobre um só pedido de impeachment, sem dizer arquive-se ou aceito e prossiga, já teria uma força de convencimento obediente muito forte. Ele está sentado em centenas de pedidos, em que ele não diz nada, simplesmente fica sentado, na paralisia institucional que nos envergonha, como se existisse no espaço institucional uma espécie de cemitério infernal dos direitos da cidadania e da decência democrática. Com esse poder de omissão, controlado pelo Centrão, o Presidente da Câmara se tornou o Imperador, que distribuiu para os parlamentares fiéis e infiéis o dinheiro farto e livre de controle do chamado Orçamento Secreto, o Secretão.
De outra parte, tem-se a presença do Procurador-Geral da República, que pressionado por Procuradores de sua carreira inclusive, simplesmente soltou no ar uma declaração antiga em que afirma sua defesa das urnas eletrônicas, mas nada de nada quanto à atual e desgraçada reunião com os embaixadores. Ele está de férias e sua consciência democrática também, como seu dever institucional.
O Brasil é digno de si e de seu povo, lição iniciada no tempo de jardim da infância, e que se projeta pela vida a fora, menos para quem seja doente em grau tal que faça o negativo impensável para o país e seu povo. Nenhum Presidente chegou a tal ponto como esse tal de “mito”, que faz o milagre de apodrecer o que toca.
Um palanque de humilhação do país, justamente no prédio símbolo de um novo Brasil, construído na época em que a tolerância tornou fértil o mundo das letras, da política desenvolvimentista, da criatividade brasileira, enfim, que teve na construção da nova capital, com sua arquitetura e traçado de implantação, a afirmação da vontade, da capacidade construtiva, da liberdade, da dignidade e da grandeza brasileiras.