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Mar Português

Sérgio Roxo da Fonseca
Procurador de Justiça e professor universitário (aposentado) e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras.

Tais Costa Roxo da Fonseca
Advogada

Entre tantos poemas extraordinários, o poeta português Fernando Pessoa deixou um extraordinário denominado “Mar Português”. O autor deixou escrito o título como sendo “Mar Portuguez”. Certamente porque assim aprendeu a linguagem com a convivência com sua família. Eis o texto:

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         “Ó mar salgado, quanto do teu sal

         São lágrimas de Portugal!


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         Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

         Quantos filhos em vão rezaram!

         Quantas noivas ficaram sem casar

         Para que fostes nossos, ó mar!

         Valeu a pena? Tudo vale a pena

         Se a alma não for pequena.

         Quem quer passar além do Bojador

         Tem que passar além da dor.

         Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

         Mas nele é que espelhou o céu”.

 A se referir ao “Bojador”, o poeta chamou a atenção do leitor para a época na qual pelo menos os europeus acreditavam que a terra era plana, razão pela qual todo dia e toda noite era o sol que rodava ao seu redor. Não era a terra que rodava ao redor do sol.

A falsa suposição afirmava que o sol morria todos os dias ao contornar o globo terrestre. No latim o vocábulo “morrer” correspondia a “occidere” que gerou em português homicídio ( “homo occidere” matar o homem), ou suicídio (“sui occidere” – matar-se). Daí como sol morreria toda tarde, o local do seu desaparecimento passou a ser conhecido erradamente até hoje como “ocidental”. Poucos tentaram no passado e até hoje tentaram o erro. Inúmeras vezes ouvimos até hoje que onde o sol morre é o ocidente!

Para os navegantes daquela época o fim do mundo estava numa enorme pedra existente na parte oeste da África, o Bojador, onde a água do mar batia com tanta força que se transformava numa fumaça. Era crença de todos que naquele local a água do mar despencava caindo no inferno, transformando-se, portanto, em fumaça.

Daí se extraia que os navegantes antigos jamais podiam ir além do Bojador porque se assim fossem acabariam despencando nos caldeirões ferventes do diabo.

Em 1453, o comandante português Gil Eanes perdeu o controle de seu navio que acabou cruzando a fumaça do Bojador, saindo do outro lado do mundo, descobrindo que o globo terrestre permanecia eternamente incólume.

 Por esses difíceis caminhos os portugueses descobriram o mundo para o mundo.

Gil Eanes imediatamente voltou a Portugal quando então comunicou ao rei a sua descoberta, ensejando até mesmo a descoberta do Brasil em 1.500, quando então supunham que estavam na frente de uma ilha.

O italiano Colombo, que estudara navegação em Portugal, mas que navegava para a Espanha, quando seu navio encostou-se às Antilhas acreditou que estava na Ásia.

Outro italiano, Américo Vespúcio conseguiu contornar o continente americano razão pela qual o continente foi batizado com o seu nome América.

Tem razão o poeta Fernando Pessoa: “Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não for pequena. Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor”.

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