Como homenagem
Feres Sabino
No requintado restaurante Amadeus, em São Paulo, reuniram-se dez pessoas para celebrar o aniversário de cem anos de quem o celebraria, se ainda estivesse entre nós.
Um avanço coletivo pelo nevoeiro da saudade, para cada um capturar daquela energia condensada, que somos o perfil que tanta marca deixou nos amigos e nas paredes da vida.
Assim, recolocamos no centro de nosso diálogo a biografia de Antônio Angarita, exatamente Antônio Ignácio Angarita Ferreira da Silva. O homem de origem indígena cuja mobilidade de sua atraente presença é um marco indelével para tanta gente que o conheceu e tantos que ouviram falar dele.
Um antigo aluno da Fundação Getulio Vargas lembrou-se daquele professor que, simplesmente professor, era um ponto de atração e de audiência naqueles momentos críticos de inquietação, para não dizer de indignação e revolta dos estudantes.
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Contou-se que após uma aula sobre “A expansão do mercantilismo na Idade Média”, ele foi aplaudido de pé.
Como chefe de gabinete da Secretaria da Cultura, quando José Mindlin era o titular, movimentou a proposta de Flavio Bierrenbach, assessor na pasta, para a instituição da Semana Portinari, iniciativa que levou o Secretário e seus assessores à cidade de Brodowski, fazendo antes palestra em Ribeirão Preto a convite da OAB.
No governo Montoro ocupou a Presidência da empresa aérea estatal paulista, VASP – Viação de São Paulo, recuperando-a de sua ruína financeira, quiçá superior, às demais linhas aéreas, inclusive as internacionais, colocando-a na primeira linha de qualidade de serviços e de segurança.
Depois no Governo Covas foi seu Secretário de Governo, prestigiado por sua vocação de homem de Estado, que dominava a crise com sensibilidade e discrição, competência respeitosa da diversidade.
Sua personalidade era manifestamente silenciosa, resolvendo os problemas sem alarde.
Culto, bem-humorado, com presença de espírito digno de sua inteligência e cultura, tem uma trajetória luminosa na Fundação Getulio Vargas, formando gerações de estudantes que têm dele a memória simpática do professor, que era um ponto de atração pela simplicidade sábia de cada orientação sua.
No almoço houve a confissão de que ele era realmente um guru indígena, cultivando o respeito às pessoas, à natureza e à vida. Um exemplar raro de democrata autêntico.