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A traição

A Constituição, que é o pacto de convivência social votado e promulgado após a maior consulta popular realizada no país, fruto de um processo democrático de debates prolongados, foi finalmente colocada no mundo jurídico-social com a designação memorável de Ulisses Guimarães como a “Constituição Cidadã”. É a “bíblia sagrada” sobre a qual servidores públicos — com destaque para vereadores, prefeitos, governadores, deputados e o Presidente da República — juram cumprir e fazer cumprir, defendendo ainda as instituições democráticas.

Esse texto inspirador da vida diária da cidadania tem sido violentado seguidamente por uma composição da Câmara de Deputados presidida pelo sinistro Arthur Lira, gestor da maior corrupção institucionalizada no país: as emendas parlamentares. Essas emendas, que chegaram a abastecer senadores e deputados com bilhões de reais, foram distribuídas de forma corrupta para seus comparsas, garantindo vitórias eleitorais. Além disso, esses parlamentares resistem a qualquer forma de transparência ou identificação de lugar e necessidade para os recursos, algo que o ministro Flávio Dino tem exigido em defesa dos princípios e regras constitucionais.

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Essa afronta à cidadania brasileira não é única nem nova. O movimento começou durante os quatro anos de propagação do ódio e de centralização de críticas no Supremo Tribunal Federal (STF), criando um ambiente de destruição que fanatizou incautos, inocentes úteis, corruptos, sonegadores, civis e militares — todos interessados nas gordas facilidades do poder, especialmente se não houver freios e contrapesos de fiscalização e limites.

Chegou-se ao absurdo de ouvir um líder ocasional afirmar que não respeitaria mais as decisões do STF, em discurso feito à porta dos quartéis de “seu exército”. Agora, desmascarado pelas revelações de crimes sequenciais, aparece como um cordeiro pedindo anistia ao próprio Supremo, que, munido das investigações da Polícia Federal, expõe o covil de criminosos em que o Palácio do Planalto foi transformado durante os quatro anos de ódio propagado e tentativa de golpe. Nesse período, foi planejada uma série de atos violentos para justificar uma intervenção militar e até mesmo discursos presidenciais pós-golpe foram descobertos em uma sala reservada do PL, partido oficial do movimento golpista. Esse planejamento incluiu, de forma grotesca, a execução frustrada de assassinatos do Presidente e do Vice-Presidente eleitos, bem como do ministro Alexandre de Moraes.


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Nesse quadro de terror, até líderes religiosos, antes propagadores de discursos de violência política, agora tentam refazer suas posições, afirmando que política não deve entrar nos cultos. Contudo, não têm a coragem de fazer um ato claro de confissão e arrependimento.

É igualmente entristecedor ver políticos tentando minimizar a gravidade dos acontecimentos com declarações vazias e de conteúdo ético-político duvidoso, movidos por intenções eleitorais. Apostam que parte da população desinformada e fanática poderá garantir-lhes apoio financeiro e político em futuras eleições.

Esse é o caso dos governadores do Paraná, São Paulo e Goiás. Movidos por ambição, demonstram uma falta de solidariedade federativa imposta pela Constituição como forma de união necessária para a redenção do Brasil.

Estados e União possuem poderes e atribuições interligados, cujo sentido é promover convergência e esforço comum nos setores municipal, estadual e federal. Contudo, esses três governadores, com pretensões de agradar a extrema-direita e propagar o descrédito à Polícia Federal, tentam minimizar as provas volumosas contra o movimento golpista. Ignoram os requintes de crueldade planejados, incluindo assassinatos de autoridades públicas, e buscam um discurso político que, embora conveniente, é desonesto e desconectado da realidade.

Ser de esquerda ou direita no plano político-ideológico é natural. No entanto, a extrema-direita, desmascarada em sua estupidez concreta e real, não deveria servir de estímulo a solidariedades disfarçadas. O governador de Goiás, com maior experiência na militância política, tenta, de forma esperta e equivocada, colher frutos para sua ambição presidencial. Já os governadores de São Paulo e Paraná demonstram um profundo desconhecimento dos princípios de solidariedade federativa e democrática.

Esses três governadores se qualificam como traidores da solidariedade federativa, que tem como alicerce os símbolos nacionais, valores e princípios que eles juraram defender, mas que agora desrespeitam por oportunismo político. Essa postura oportunista carrega a marca da traição.

Por Feres Sabino – advogado

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