A conversa pra boi dormir
O governador de São Paulo fixou seu espírito verdadeiro, sua fé política, sua dependência de da fonte autoritária, não foi só porque vendeu a SABESP, lucrativa em bilhões, sem fazer a pergunta óbvia sobre a vantagem do lucro da estatal ou parestatal, que deveria estar nos cofres oficiais, ou no cofre faminto do empresário privado. Agora o CEO da SABESP declara para quem quiser ouvir: “A SABESP NÃO FARÁ POLITICA PÚBLICA”. Agora, se o Estado que faz política pública das águas não a faz, quem a fará …. pois, a empresa privada quer lucro. Eis a equação da redução das despesas, da redução de pessoal qualificado, preparado durante anos, da redução da qualidade do serviço e os consequentes desastres que já se vislumbrou com a privatização da Vale do Rio Doce, com Minas Gerais devastado com mortes e feridos e destruição da natureza.
Não foi só por isso que o espírito governante ficou indelével perante à cidadania. A rigor, sua vertente vendedora do patrimônio público está ligada a outra vertente de desrespeito violento, revelada pela explosão verbal que saiu como resposta ao protesto da inaugural violência policial militar, após atuação no litoral paulista, e depois repetida, somando mortes de dezenas de pessoas.
Aos apelos de racionalidade legal, de respeito aos direitos humanos, o governador bufou: “Pode ir a ONU, aos direitos humanos, aos raios que os parta, que eu não estou nem aí”. Coragem indômita! Já que, ainda, mantem na Secretaria da Segurança o policial militar, devoto da morte, que só reconhece bom policial aquele que já matou três, e que de repente afastou ou aposentou 32 coronéis legalistas.
Mas depois disso a violência policial continuou matando jovem com 12 tiros nas costas, matou criança, em cujo enterro os policiais foram para pressionar a família, matou velhinha, e por fim alcançou o ápice da estupidez filmada, porque um policial militar jogou da ponte um jovem.
Para indignação geral, a resposta do governador foi um atitude de estudada e fingida humildade, aparecendo como alguém que errou, pois antes rejeitara as câmeras corporais nos policiais, com filmagem ininterrupta, e funcionamento não dependendo do policial que a mantinha ao corpo. Diz o supremo mandatário: ‘Eu errei, sim’. Em típica humildade aparente.
- Publicidade -
E abriu concorrência para câmeras que filmam quando do interesse do policial que a carregue, só que agora decisão do Supremo Tribunal Federal coloca a calibragem da lei, na obrigação do governador.
Os antecedentes da atitude do governador nasceram da atuação da Defensoria Pública de São Paulo, que ingressou com ação judicial, sustentada no direito constitucional à vida (art.5º da CF), que “abrange a dignidade, a integridade e a existência como pré-requisito e exercício de todos os demais direitos”. Esta ação da Defensoria tem a finalidade de obrigar o governador a continuar a política de câmeras de funcionamento ininterrupto. O Tribunal de São Paulo julgou improcedente a ação, porém, a Defensoria Pública, que faz excelente trabalho, recorreu ao Supremo Tribunal Federal, que concedeu prazo e prazo ao governo paulista, até recebendo visita do senhor governador, que nunca respondeu eficazmente ao questionamento que lhe faziam, formalmente. E assim, na certeza de que seria condenado, ele resolveu pegar, um pouco antes, a capa da humildade e confessar que teria errado. Ele errou verdadeiramente, já que pesquisas sempre revelavam em números surpreendentes que as câmeras protegem o policial e o cidadão. A conclusão é que ontem já morriam menos policiais com a existência delas.
Não basta dizer, portanto, que errou, nem repetir uma serie de providencias que ouviu do encontro de Brasília, é preciso fazer a segurança pública funcionar devidamente interligada com os governos estaduais e a centralização da União Federal, nos moldes em que Ministério da Justiça está se debatendo e propagando.
Está no Google: “Conversa para boi dormir é uma expressão popular em português (do Brasil) utilizada quando se diz que alguém está de conversa mole, lero-lero, desculpa esfarrapada ou mentira contada com a intenção de enganar alguém”.
Por Feres Sabino