A serpente é militar (da reserva)
Ninguém pode se surpreender com o auge da barbárie, só porque ela alcançou o seu grau máximo que atingiu o coração do Poder político e jurídico do Brasil, num postal historicamente inesquecível: a destruição da sede dos três poderes da República. Afinal, no acampamento-mãe de Brasília, e mesmo nos comentários de rua de nossa cidade, alguns falavam e esperavam um acontecimento extraordinário lá na capital da República, como uma palavra de ordem, ou algo mais consequente do que ela. Seguramente, não há surpresa. Tanto que no artigo datado de 11 de janeiro de 2021, sob o título “O Oráculo da estupidez autoritária”, já se mostrava como o incentivador-mor considerava a invasão do Congresso norte-americano, dizendo que tal figurino poderia ser facilmente importado. Está escrito: “Se o caos não fosse o objetivo, a guerra contra a Covid-19 teria tido um planejamento, uma racionalidade. […] o Oráculo de Brasília, no seu pendor único de ameaçar a democracia, não se fez de rogado, e já preveniu que, em 2022, a dose da estupidez autoritária pode repetir aqui o que aconteceu lá na sede do império, se o voto impresso não for adotado”.
A fonte é o discurso do ódio, que até chegou a ganhar um gabinete, no Palácio do Planalto. E a barbárie utilizou inicialmente, para o acampamento-mãe de Brasília, familiares de oficiais da reserva e pessoas ligadas aos militares da ativa, possivelmente dentre os oito mil que estavam usufruindo de funções administrativas. Não é demais acreditar que oficial da reserva do governo anterior, no exercício de alta função, utilizou a blindagem com tais pessoas para impedir a ação da polícia militar para desocupação, naquela região do rico acampamento, à moda de férias, já que montados com todo conforto e higiene.
Se analisada a “capivara” do ex-presidente da República, está lá sua vocação terrorista, que pretendeu explodir quartéis para conseguir aumento de salários para a sua “companheirada”. Ela durante esses anos todos, mais de trinta anos, constitui sua base eleitoral cativa. Seguramente, é essa vocação que levou o G.el. Geisel a se referir a ele como “mal militar”. É esse capitão que, como deputado, prometeu, para salvar o Brasil, a matança de trinta mil brasileiros.
Na Presidência da República investiu no caos. Desmontou os colegiados ou de fiscalização, ou de educação, não criados por lei; militarizou a administração pública, com aproximadamente oito mil militares; instituiu escolas militares; frequentou todas as solenidades de quem usasse fardas; aumentou substancialmente o salário da polícia do Distrito Federal, omissa diante da barbárie; liberou mais de quinhentos agrotóxicos sem considerar a saúde do povo; atrasou a compra das vacinas de Covid-19; colocou Pazuello, o estrategista, na saúde para destratá-la, porque ignorante de medicina e de ética; mandou o Exército fabricar cloroquina; abasteceu com milhares de “camisinhas” tantos fardados; alimentou os pastores exigentes de barras de ouro, no Ministério da Educação, para que fossem liberadas as verbas aos municípios; avançou com seu instinto destruidor contra as universidades brasileiras, contra a cultura em geral; xingando impunemente autoridades e Instituições, nacionais e estrangeiras, isolou o Brasil da comunidade internacional, ofendeu a China, importantíssima parceira comercial; fez uma reunião ministerial, filmada como cartão-postal da ignorância raivosa e atrevida; fez tudo para desacreditar as urnas eletrônicas, levando o Exército a se tornar, ilegalmente, uma espécie de auditor delas e desencorajando-o a dizer claramente o que deixou subentendido, porque comprovadamente íntegras. Desde o início liberou a aquisição de armas, inclusive as de groso calibre, retirando a fiscalização eficiente do Exército, e facilitando com isso seu acesso aos traficantes e às milícias. As armas liberadas funcionaram como aviso prévio, quando usadas pelo desastrado Roberto Jefferson. Essa lição gravou-se, também, no delírio da deputada perseguidora de um negro, na capital paulista. Os chefes militares nada diziam da obrigação de defender a democracia, aceitando os atos antidemocráticos como se democráticos fossem, pois ali estavam esposa e familiares de companheiros da reserva, ou mesmo da ativa. E no dia “D” da vergonha nacional os batalhões, com seus comandos confusos, atrapalhados, e que deveriam defender o Palácio do Planalto, não foram vistos nessa defesa, somando-se à inanição da polícia do Distrito Federal, a melhor paga do Brasil. Para esse plano de confusão, o protocolo de segurança previamente estabelecido com o Secretário de Segurança do Distrito Federal e demais autoridades foi alterado, para em seguida esse Secretário assistir de camarote ao fim da onda terrorista, mas lá em Miami, acompanhado de seu Oráculo. Enquanto a Polícia Federal descobria a minuta de documentos para serem adotados após o sucesso terrorista.
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Sempre se dizia que as duas Instituições do Brasil que estão esparramadas por todo o território são as Igrejas e o Exército. As Igrejas não têm competência para organizar acampamentos como “incubadoras da barbárie”, restando ao Exército, inibido por oficial da reserva, talvez exercendo função na segurança interna.
A forte impressão é que a gritaria da intervenção falava do caminho ilegal e antipatriótico que, na verdade, ouvintes da reserva militar desejavam executar, e que, presumivelmente, só não o fizeram porque há imponderável oposição no seio das forças armadas.
Mas a serpente sobrevive silenciosamente, enquanto a caixa de seu esconderijo não for aberta ao oxigênio da vida democrática.