Feres Sabino: Lá longe, aqui perto
O Estado Militarista é um livro de Fred J. Cook, com o subtítulo O que está atrás da morte de Kennedy. No final da década de 1960 e início da seguinte, esse livro gerou temores e aflições que assaltavam as inquietações pessoais e sociais daqueles que se preocupavam com uma terceira guerra mundial, que poderia acontecer por acidente. Atrás daquela morte estava o complexo industrial-militar, que dele já falara o general Dwight David Eisenhower, 34º presidente dos Estados Unidos (1953-1961).
Vivia-se o ambiente mundial da Guerra Fria. De um lado, os Estados Unidos com o recado destruidor de Hiroshima e Nagasaki, de outro lado a União Soviética, que também lançara seu astronauta no espaço, com a vantagem de saber o ponto em que ele aterrissaria.
A guerra destruidora do mundo poderia acontecer, no entanto, por acidente! Era o fantasma da meia-noite que girava na cabeça noturna.
O livro contava muitos episódios de tais e quais acidentes. Mas um ficou indelével, rememorando a angustia que causava.
Era aquele carro de polícia com seu rádio ligado, que passara próximo de uma base de míssil norte-americana e que acionara o dispositivo do foguete, fazendo-o deslizar na rampa de lançamento. Um horror contido a tempo e a hora. O susto da leitura deixou sequela.
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O filme Dr. Fantástico, de 1964, direção de Stanley Kubrick, e com Peter Sellers vivendo três personagens, é a comédia sem gargalhada, a qual congela riso diante do maluco general americano, que desconfia que o flúor da água servida à população estava contaminado pelos comunistas. Esse militar era o único que detinha o código para liberar o foguete com ogiva atômica e provocar o conflito nuclear. E ninguém poderia falar com ele, visto que estava blindado para qualquer ligação com o seu exterior.
Depois daquela década ou durante ela, nunca se sabe, os arsenais das bombas atômicas; das de hidrogênio; as inteligentes; as que só matam quem querem, no lugar que querem, quando querem, só cresceram. Multiplicaram-se os países detentores da bomba atômica. Eis o Paquistão, eis Israel, a Coréia do Norte, a Índia, a França, todos no exagero de tantas e tantas bombas, quando são necessárias só algumas para destruir as pessoas, os animais e a natureza da Terra, quiçá muitas vezes.
Tanto poder militar, porém, não evitou que os camponeses do Vietnã expulsassem primeiro os franceses e depois os norte-americanos de seus territórios, assim como os guerrilheiros do Afeganistão vencessem os russos com a ajuda dos americanos, para depois voltarem as suas armas guerrilheiras para eles, que até hoje lá se encontram, procurando uma saída negociada. No Iraque entraram, querem ficar por causa do petróleo também, mas historicamente, lá, exército de ocupação não fica.
Assim foi, ora de brutalidade, ora de aflição; ora de medo, ora de um fiapo de esperança.
Os estoques das bombas cresceram enormemente. E a indústria da guerra sempre conseguiu e consegue um conflito regional, para testar seus produtos arrasadores, como laboratórios da morte coletiva, modernamente de civis, pessoas e crianças.
Nesse longo período nada paralisou a ânsia guerreira dos empresários das armas e das guerras, nem a ânsia guerreira dos guerreiros profissionais, de paramilitares e de milicianos, nada e ninguém. A exceção, que tira o sono dos heróis e dos covardes, dos fortes e dos fracos, dos bons e dos maus, do otimista e do pessimista está aí, democrático e invisível, esse vírus, que se espalha pelo mundo, sem discriminar ricos ou pobres, jovens ou adultos, entre os que são pacientes diante da morte ou impacientes com a demora dela.
Esse cenário aterrador seguramente engolirá a estupidez, que insiste em desvalorizar o mérito maligno e avassalador desse desgraçado vírus. E das catacumbas do desespero e da esperança surgirá a consciência da supressão das desigualdades sociais, cantando o credo da paz e da solidariedade.
O mundo ficou pequeno demais para tanta maldade!
Fonte: https://advogadoferessabino.wordpress.com/