Durante a FIL, Djamila Ribeiro reforça luta pela igualdade por meio da educação - Jornal NovaCidade - Orlândia e região
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Durante a FIL, Djamila Ribeiro reforça luta pela igualdade por meio da educação

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Numa atividade que reuniu homenagens e abordagem de temas que atravessam a história brasileira em diferentes perspectivas convergentes, a Conferência com a professora e filósofa Djamila Ribeiro lotou a sala principal do Theatro Pedro II no encerramento do primeiro dia da 24ª FIL (Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto). A programação teve ainda a Conferência Internacional com a autora argentina Camila Sosa Villada e Amara Moira, também escritora e doutora em Teoria Crítica.

Referência nacional e internacional na esfera do ativismo social e da intelectualidade negra brasileira, Djamila Ribeiro – que é a autora educação homenageada pela 24ª FIL -, abordou questões diversas que foram desde a amplitude do conceito lugar de fala até a interseccionalidade dos desafios estruturais da sociedade. “É importante reconhecer o lugar de onde falamos, a partir de onde partimos socialmente. Não há como falar de classe sem falar de gênero, não há como falar de habitação e não falar de classe ou falar de economia e não falar de sexo. São dimensões interligadas e não dá para compreender uma sem a outra”, pontuou a filósofa. 

Outro destaque de sua abordagem foi sobre a compreensão do lugar de fala como silenciamento. “O lugar de fala não é calar os outros, mas entender que todos falam a partir de um ponto social. Muitas pessoas dizem que estão sendo silenciadas quando continuam usufruindo de privilégios. Escuta ativa também é lugar de fala e temos que estar dispostos a ouvir coisas que nos incomodam e a não tratar como inimigo quem discorda de nós. Silenciamento é diferente. É não ter oportunidades, é não ser publicado, é não poder ocupar espaços”, destacou. 

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A escritora também trouxe à sua fala os impactos das teorias raciais que ainda permeiam a sociedade. “As ideias absurdas do racismo científico do século 19 continuam influenciando a memória social. A sociedade ainda lida com a dificuldade de imaginar a mulher negra em determinados lugares de poder, as vendo somente em papéis estereotipados. Por isso, conhecer de onde vêm essas ideias é fundamental para desconstruí-las”, alinhavou Djamila.

A escritora ressaltou a importância da educação como direito estruturante, inclusive desconstruindo a ideia do identitarismo. “Se hoje estou aqui, é porque tive a oportunidade de estudar. Não venho de uma família acadêmica e precisei aprender tudo dentro do movimento feminista e com políticas públicas de acesso. Educação é um direito coletivo que pode transformar a sociedade”. Sobre identidade, Djamila Ribeiro lembrou que, até 2016, 90% dos livros publicados no Brasil eram escritos por pessoas brancas, a maioria homens. “Como dizer que falar de raça e gênero é identitarismo, se o que está em jogo é a economia, a habitação, o acesso a políticas públicas? Essas questões não são acessórios. Elas são o núcleo da desigualdade no Brasil”, alertou. A conferência terminou com uma homenagem artística apresentada por artistas do Coletivo Abayomi.

Fotos de Sté Frateschi

Entre homenagens e memórias 


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Na abertura da noite, Djamila Ribeiro recebeu o título de cidadã ribeirão-pretana, entregue pela vereadora Duda Hidalgo, proponente do projeto que representou a Câmara Municipal. A parlamentar ressaltou a importância do reconhecimento conferido à escritora. “Temos a honra de te chamar para ser cidadã da nossa cidade, Djamila. Todos os dias você transforma realidades. Escolheu não deixar o conhecimento restrito à academia e, por isso, é também uma educadora popular. Combater o apagamento da história dos negros e, sobretudo, das mulheres negras, é fundamental, e hoje deixamos marcada na história de Ribeirão Preto a sua contribuição”, disse a vereadora.

Emocionada, a escritora contou sobre sua proximidade com a cidade – onde vive a família de seu companheiro – suas participações na FIL desde 2019, e falou sobre a responsabilidade de se tornar representante de uma cidade onde há muitas pessoas e movimentos de batalha por justiça social. “Estar aqui, na 24ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto, um dos maiores encontros literários do nosso país, sendo homenageada na categoria Educação, é algo que me comove e me honra imensamente. Ribeirão Preto foi se colocando em minha vida de forma definitiva e receber esse título me traz lembranças muito fortes da minha própria trajetória”.

A filósofa dedicou o título aos pais, reverenciando a história de quem atribui o sucesso do caminho que percorreu. “Sou filha de uma trabalhadora doméstica e de um estivador, pais que não puderam concluir seus estudos, mas sabiam o que a educação poderia significar na vida de seus filhos negros. Assim como sabiam da importância de levar cultura para dentro da nossa casa. Eles empenharam o esforço de uma vida inteira para que eu tivesse oportunidade”. Segundo a escritora, assumir essa cidadania é uma honra e um desafio. Precisamos de coragem para enfrentar as estruturas dominantes e precisamos de amor para construir uma sociedade mais justa. Para isso, o conhecimento, a cultura, a solidariedade e a luta coletiva são os instrumentos mais fortes que temos”, sublinhou.

Conferência Internacional

A escritora argentina Camila Sosa Villada, autora de “Sou uma Tola por te Querer”, e Amara Moira, doutora em teoria crítica e autora de “Se eu fosse puta” e “Neca: romance em bajubá”, também participaram da primeira Conferência Internacional da programação. O encontro teve como eixo a literatura e trouxe reflexões sobre experiências sociais, processos criativos e linguagem.

Camila Sosa Villada destacou a influência da cultura brasileira em sua trajetória. “As novelas brasileiras me marcaram muito na infância. A oralidade da televisão e da música popular foram uma escola para mim”, afirmou. Para a autora, foram esses elementos que a ajudaram a construir sua escrita: “Aprendi a contar histórias ouvindo antes de escrever. A palavra falada é uma herança que atravessa os livros que público hoje”.

Amara Moira enfatizou a potência de ampliar o repertório sobre narrativas trans. “Não somos só histórias de dor, de marginalidade ou de violência. Também temos amores, cotidianos, desejos, afetos. Isso precisa estar nos livros”, disse. Amara ressaltou ainda a importância de romper com imagens cristalizadas sobre travestis. “A literatura abre espaço para mostrar que nossas vidas não cabem nos estereótipos que nos foram impostos”.

A programação completa da FIL 2025 está disponível no site da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto: www.fundacaodolivroeleiturarp.com. A realização da FIL conta com a parceria da Prefeitura Municipal por meio das Secretarias de Governo, Casa Civil, Educação, Cultura e Turismo, Infraestrutura, Meio Ambiente, Esportes, Fiscalização Geral e Saerp; do Ministério da Cultura e Governo do Estado de São Paulo por meio da Secretaria Estadual da Cultura, Economia e Indústrias Criativas, Sesc e Senac.

Sobre a FIL

A FIL – Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto) consagrou-se como um dos maiores eventos culturais do país e tornou-se internacional em 2020. Possui 25 anos de história e realiza neste ano a sua 24ª edição. A cada ano, a programação reúne autores, artistas, intelectuais, educadores, estudantes e participantes de diversas localidades. Todas as atividades são gratuitas e abertas à população, o que consolida o objetivo primordial de fomentar a leitura e de contribuir para ampliar os números de leitores do país. Em 2024, o evento registrou público de 250 mil pessoas, presença de 260 escritores e mais de 400 atividades realizadas. O impacto na economia de Ribeirão Preto foi da ordem de R$ 5 milhões. 

Patrocínio Diamante: Usina Alta Mogiana

Patrocínio Ouro: GS Inima Ambient 

Patrocínio Prata: Necta Gás Natural e Savegnago

Patrocínio: Apis Flora, AZ Tintas, Caldema, Caseli Tracan, Engemasa, RibeirãoShopping, Riberfoods, Pedra Agroindustrial S/A e TMA Máquinas.  

Instituição Cultural: Sesc e Senac

Apoio Cultural: ACI-RP, Automotiva Cestari, Lopes Material Rodante, Macopema, Monreale Hotel, Santiago e Cintra Geotecnologias, Grupo Suprir, Tonin Superatacado e Santa Helena.

Apoio Institucional: Fundação Dom Pedro II, Theatro Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, CUFA Ribeirão Preto, Ong Arco-Íris, Coletivo Abayomi, A9 – Água Alcalina, Alma (Academia Livre de Música e Arte), IPCIC – Instituto Paulista de Cidades e Identidades Culturais, Casa Grafite Comunicação e Cultura, Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto, ETEC José Martimiano da Silva, Educandário, Sesi, Centro Universitário Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), Faculdade Metropolitana, Adevirp, Fundação Dorina Nowill Para Cegos, Ann Sullivan do Brasil, Associação de Surdos de Ribeirão Preto, Caeerp, Dr. Cãopaixão – Projeto Cães de Terapia, Fada, RibDown, NeuroRib, Conventions & Visitors Bureau, Painew, Verbo Nostro Comunicação Planejada, Film Commission da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, Instituto do Livro, RPMobi, Coderp, Guarda Civil Municipal e Polícia Militar.

Mais informações:

www.fundacaodolivroeleiturarp.com

Instagram: @fundacaolivrorp

Facebook: @fundacaodolivroeleiturarp

YouTube: /FeiraDoLivroRibeirao 

Twitter: @FundacaoLivroRP

Sobre a Fundação

A Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela realização da Feira Internacional do Livro da cidade, hoje considerada a segunda maior feira a céu aberto do país e também por feiras em municípios do interior paulista. Com trajetória sólida, projeção nacional e agora internacional, a entidade estabeleceu sua experiência no setor cultural e, atualmente, além da feira, realiza muitos outros projetos ligados ao universo do livro e da leitura, com calendário de atividades durante todo o ano. A Fundação do Livro e Leitura se mantém com o apoio de mantenedores e patrocinadores, com recursos diretos e advindos das leis de incentivo, em especial do Pronac e do ProAc.

 

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